Julio Severo
A palavra grega “eutanásia” literalmente significa “morte
bonita” ou “morte feliz”. E quem é que poderia ser contra o desejo de morrer
bem e feliz?
O Dr. J. C. Willke, em seu livro Assisted Suicide &
Euthanasia, diz: “As palavras são importantes. É comum, quando abordam esse
assunto, as pessoas procurarem o significado da palavra eutanásia e saber que
sua tradução é ‘boa morte’. Mas precisamos ignorar e rejeitar essa tradução,
pois não tem nada a ver com o que está acontecendo em nossos dias. A eutanásia
hoje ocorre quando o médico mata o paciente”.[1]
No uso moderno, eutanásia quer dizer causar diretamente uma
morte sem dor a fim de acabar com o sofrimento de vítimas de doenças incuráveis
ou desgastantes. Em outras palavras, é matar sob a alegação de um sentimento de
compaixão. A eutanásia, como o aborto legal, é um método em que matar
representa uma solução.
O Que Não é
Eutanásia
Permitir que uma pessoa morra quando o curso da doença é
irreversível e a morte é obviamente iminente por questão de horas ou dias não é
eutanásia. Os pacientes têm a liberdade de recusar tratamentos médicos que não
lhes trarão cura nem alívio para o sofrimento. Quando o doente não está em
condições de falar por si mesmo, a família tem o direito de recusar tratamentos
caros que não terão nenhum benefício para impedir o andamento da doença.
Quando um paciente está realmente morrendo, os médicos podem
e devem usar o bom senso para avaliar a situação. Se os tratamentos não estão
trazendo nenhuma cura e só estão ajudando a adiar a morte inevitável, os
médicos podem descontinuar os tratamentos para permitir que o doente tenha uma
morte natural. Nenhuma dessas ações é eutanásia. Mas eles têm a
responsabilidade de dar conforto para o paciente e permitir que ele tenha uma
morte pacifica.
O Que é
Eutanásia
Eutanásia é a ação deliberada de causar ou apressar a morte
do doente. Essa ação pode ocorrer das seguintes maneiras:
• Decisão médica de administrar uma injeção letal no doente, com ou sem
consentimento.
• Decisão médica de não dar a assistência médica básica ou o tratamento médico
padrão. Por exemplo, não dar a uma criança deficiente a mesma assistência que é
dada a uma criança normal.
• Decisão médica de dar ao
doente uma droga ou outro meio que o ajude a cometer suicídio. Nessa situação
específica, quem realiza o ato letal não é o médico, mas o próprio paciente. O
médico apenas fornece os meios.
Há Uma Diferença
O ponto mais difícil nos debates sobre a eutanásia é que a grande maioria das
pessoas não sabe a diferença entre assistência e tratamento. Como muitas vezes
não se entende até onde a medicina deve intervir ou não na vida de um doente, é
importante compreender a diferença entre assistência e tratamento.
O Que é Assistência?
A assistência supre as necessidades básicas de todas as
pessoas, doentes ou saudáveis: nutrição, hidratação (água), calor humano,
abrigo e apoio emocional e espiritual. O alimento e a água são necessidades
básicas de todos os seres humanos, não tratamento, e sua retirada provoca ou
apressa a morte. Isso é inaceitável na ética médica, já que a medicina tem a
missão clara de destruir a doença, não o doente. O alvo é sempre dar
assistência para o doente, nunca matá-lo. Enquanto o paciente está em condições
de receber nutrição, essa necessidade tem de ser plenamente suprida. A retirada
da nutrição só é possível quando o doente está perto da morte e seu corpo não
consegue mais metabolizar o alimento. Nessas circunstâncias, a alimentação pode
ser inútil e sobrecarregar excessivamente o organismo do doente. Em todos os
outros casos, a assistência jamais deve ser negada.
Há pacientes que não têm
condições de receber alimento pela boca normalmente. Dar comida e água para
eles através de uma sonda de alimentação é considerado assistência normal. A
ética médica tradicional estipula que as sondas de alimentação sejam usadas
quando há necessidade, a não ser que o paciente esteja prestes a morrer ou não
esteja em condições de metabolizar o alimento devido à sua doença (como câncer
metastático pervarsivo) ou haja uma patologia (por exemplo, aderências no
estômago) que torne impossível ou perigoso introduzir uma sonda. Sondas de
alimentação são simples e eficientes para fornecer alimentação e água, e não
incomodam, não causam dor nem custam caro. Remover a sonda ou não aceitá-la
para dar alimentação e água quando é necessário com certeza provocará a morte
do paciente. Nesse caso, ele morrerá não de sua doença, mas de desidratação e
fome. É uma morte extremamente desumana.[2]
É muito difícil cuidar de alguém que está morrendo de
desidratação e fome. A pessoa tem convulsões, a pele e as mucosas secam,
causando feridas que apodrecem e sangram. O aparelho respiratório seca,
causando grossas secreções que tapam os pulmões e provocam uma respiração
angustiosa. Todos os órgãos acabam ficando fracos e a morte vem então, depois
de um agonizante período de 5 a 21 dias. [3]
A escritora Eileen Doyle disse:
Matar-se de fome é a mesma coisa que
colocar uma arma na própria cabeça. A causa da morte é a intenção de acabar com
a própria vida. Qualquer argumento que permita a remoção das sondas de
alimentação poderia ser também aplicado para a recusa de alimento e água para
pessoas em condições de ingeri-las. [4]
Por que tantos doentes são alimentados por sonda e não pela
boca? A alimentação por sonda diminui o tempo necessário para as enfermeiras
alimentarem o paciente pela boca, economizando tempo e reduzindo os custos.
O Que é Tratamento?
O alvo do tratamento médico é curar ou controlar os problemas
crônicos ou agudos de saúde. Na maior parte das situações os médicos usam o
tratamento padrão, e em situações mais sérias eles têm de aplicar tratamentos
mais fortes. O tratamento padrão envolve o uso de medicamentos e cirurgias para
aliviar os problemas de saúde ou outros problemas provocados por acidentes ou
doenças. Quando o tratamento se torna medicamente inútil ou quase não traz
benefício, o caso deve ser avaliado levando-se em consideração os melhores
interesses do paciente. Nos casos terminais, o tratamento mais útil é trazer
conforto ou aliviar as dores do paciente.
É uma opção saudável, no caso de alguém que já está morrendo,
a remoção de tratamentos muito fortes que só causam dor e prolongam
desnecessariamente um tempo bem curto de vida. Morte natural significa permitir
que o paciente morra em conforto e paz. Observe que se os mesmos tratamentos
fossem removidos de uma pessoa que tem grande chance de viver por mais tempo,
tal ação seria eutanásia. Exemplos desse tipo são os milhares de recém-nascidos
que morrem anualmente nos EUA porque os médicos não permitem que eles recebam
alimento e água. Se não fosse por esse ato médico, esses bebês poderiam viver
anos. [5]
Quem Deve Decidir?
Quando um doente está impossibilitado de falar por si mesmo,
a família tem a responsabilidade de tomar as decisões no lugar dele. A questão
mais importante não é avaliar o que é melhor para nós ou se valerá a pena
deixá-lo viver de uma maneira considerada improdutiva pelos padrões de um mundo
que não teme nem obedece a Deus. Precisamos decidir o que é melhor para a
pessoa que está doente.
Nessa situação, o cristão tem a responsabilidade de buscar a
vontade e a presença de Deus em tudo o que faz, pois a decisão de dar ou não a
vida pertence somente a ele (cf. Deuteronômio 32.39). Portanto, a base de
qualquer decisão é se determinado tratamento trará benefício ou sobrecarregará
a vida de um paciente, não se a vida de um paciente é inútil ou difícil de
suportar.
Como muitas outras pessoas que estudam muito para aprender,
Christine Skiffington está se esforçando e avançando muito em seu estudo da
língua francesa. Não há nada de raro nisso, exceto que seis anos antes ela
estava em coma, depois de sofrer hemorragia cerebral. Ela não mostrou
absolutamente nenhum sinal de consciência e não conseguia se comunicar. Ninguém
esperava que ela se recuperasse e os médicos queriam remover o alimento e os
líquidos dela, a fim de lhe apressar a morte, mas seu marido não deu consentimento.
Os médicos ainda não conseguem explicar como Christine, que tem 61 anos, saiu
do coma. Ela teve uma recuperação total e já está tirando carteira de
motorista. Esse caso mostra que as pessoas que trabalham na medicina não são
infalíveis e que há sempre a possibilidade de uma recuperação. Mas a questão
mais importante não é essa. O ponto chave é que ninguém deve ajudar a empurrar
outro ser humano para a morte. Como ser humano, Christine Skiffington tinha o
direito à vida — mesmo que ela não se recuperasse totalmente.[6]
O APERTO DA MÃO
DA ESPOSA
Lorraine Lane tinha 42 anos quando
desmaiou ao ir para casa depois do trabalho. Os médicos diagnosticaram que um
derrame a tinha deixado com danos cerebrais graves. O marido Neil queria honrar
o pacto de “direito de morrer” que o casal tinha feito antes do derrame. Depois
de um ano, ele ficou tão desesperado para livrar a esposa do “inferno em vida”
que ele lutou para ganhar uma ordem judicial que obrigaria os médicos a remover
a alimentação e líquidos dela. Mas o Sr. Lane mudou de ideia depois que sua
esposa apertou a mão dele quando ele estava na cama ao lado dela. Ele disse:
“Eu não poderia viver com o pensamento de que Lorraine estava consciente do que
estava acontecendo e consciente de que ela estava sendo praticamente abandonada
para morrer de fome”. (Daily Mail [Inglaterra], 18 de julho de 2000)
A Questão da
Dor
Se não fosse pela existência da dor, provavelmente não
haveria nenhum movimento pró-eutanásia no mundo. Na Holanda, o espectro de
sofrer dores agonizantes e a solução misericordiosa da eutanásia são os grandes
responsáveis pela aceitação da morte deliberada de pacientes em hospitais.
Quando pensam em eutanásia, muitas pessoas pensam em fuga do sofrimento.
O Dr. Jack Willke diz:
A questão central é que é possível
controlar a dor. É possível aliviar as dores dos pacientes em todos os casos,
com a exceção de uma fração muito pequena de situações. A chave de tudo é o
médico. Se ele não sabe controlar a dor e não pode, ou não quer, tomar o tempo
para aprender, então a “solução simples” do médico é matar o paciente quando
ele não puder matar a dor.[7]
Vivemos numa época em que a medicina se desenvolveu a tal
ponto que já é possível aliviar o sofrimento de pessoas que estão sofrendo as
dores mais intensas. Anestesistas e outros especialistas afirmam que a medicina
hoje pode dar adequado alívio paliativo em 99% dos casos. Mas muitos pacientes
são impedidos de obter o alívio de suas dores porque alguns médicos acham que
eles ficarão viciados aos medicamentos analgésicos e porque também muitos
profissionais médicos não receberam um treinamento adequado na área de controle
de dores e sintomas.[8]
Kathleen Foley é responsável pela área de alívio às dores no
Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering em Nova Iorque. Ela declarou:
Vemos frequentemente pacientes
encaminhados para nossa Clínica que, por causa de dores incontroláveis, pedem
que os médicos os ajudem a se matar. Mas é comum vermos tais ideias e pedidos
desaparecerem quando eles recebem um tratamento que lhes traz alívio de suas
dores e outros sintomas, usando uma combinação de métodos farmacológicos,
neurocirúrgicos, anestésicos e psicológicos. [9]
Um Escritor Fala
Se a medicina hoje tem tantos recursos disponíveis para aliviar o sofrimento
físico dos doentes sem matá-los, então por que os médicos não os usam? O
escritor Wesley Smith recentemente escreveu um livro chamado Cultura da Morte, onde ele mostra o que está
acontecendo com a medicina nos Estados Unidos. Em entrevista ao noticiário
eletrônico WorldNetDaily, ele explica que a maioria das pessoas não sabe que um
pequeno mas influente grupo de filósofos e autoridades da área de saúde está
trabalhando intensamente para transformar as leis e o sistema de saúde. Ele
afirma que, sob a incitação de especialistas em bioética, a indústria da saúde
está abandonando sua prática tradicional de não fazer mal aos pacientes e está
agora adotando um sistema completamente utilitário que legitimaria a
discriminação contra — e em alguns casos até o assassinato de — as pessoas mais
fracas e mais indefesas da sociedade. A seguir os melhores trechos da entrevista:
Pergunta: Como
é que a classe médica está mudando?
Resposta: O que está acontecendo é que há um movimento ideológico
chamado o “movimento de bioética”,
que está nos afastando da medicina cujo juramento profissional é “não fazer
mal” (e a maioria das pessoas querem que seus médicos sigam essa medicina) e está
nos levando para uma medicina baseada na tão chamada “qualidade de vida”.
P: Uma
das coisas assustadoras que você menciona em seu livro é toda essa conversa
sobre “direito de morrer” ... não queremos ficar presos a máquinas de suporte
de vida; temos o direito de morrer. Mas você escreve que a tendência mais
recente não é só o “direito” de morrer, mas um “dever de morrer”.
R: Sim. O movimento de bioética está
nos levando em direção ao dever de morrer. O motivo por que logo de início já
falo sobre filosofia é porque é a filosofia que fortalece as próprias políticas
e planos que descreverei daqui a pouco. Você e eu pensaríamos, assim creio eu,
que o fato de nós sermos seres humanos é algo exclusivo e especial no mundo.
Mas de acordo com a ideologia da bioética, a coisa não é bem assim, pois somos
mera vida biológica. Não há nada especial no fato de sermos seres humanos.
Portanto, os especialistas em bioética — não todos, mas os que mais chamam a
atenção no movimento — decidiram que temos de distinguir o que é que torna a
vida humana — ou qualquer outro tipo de vida — especial. E eles chegaram a uma
conclusão, que é realmente prejudicial e discriminatória.
A questão deles não é se o fato de você ser humano é importante, mas se você é
uma “pessoa”. Assim, para eles há alguns humanos que são pessoas, e todas as
pessoas têm o que você e eu chamamos de direitos humanos. Mas as não-pessoas
humanas não têm direitos humanos.
P: E
quem é que está decidindo classificar certas pessoas assim?
R: Os especialistas em bioética
estão criando essas decisões, e estão ensinando isso nas universidades mais
importantes.
P: Quem
lhes deu o direito de decidir o que é certo e errado?
R: É uma boa pergunta. Quem foi que
decidiu que os filósofos — pois é principalmente isso que eles são — devem
decidir nossa ética médica e nossas políticas de saúde pública? Mas se der uma
olhada na comissão presidencial de bioética, adivinhe quem é que está ocupando
essas posições? Dê uma olhada na maioria das posições de bioética nas
universidades. Ali estão pessoas como Peter
Singer, da Universidade de Princeton.
P: Esse
cara é louco.
R: Peter Singer exemplifica o movimento sobre o qual estou falando¼
Ele é um australiano, o que chamam de “filósofo moral”. Mas no caso dele, esse
termo é contraditório. Ele é conhecido principalmente por duas coisas.
Primeira, ele é o criador do moderno movimento dos direitos dos animais. Na
década de 70 ele escreveu um livro chamado “A Liberação dos Animais”, e o livro oferece a suposição de que os
seres humanos e os animais têm igual e inerente valor moral. Portanto, não se
pode usar animais em pesquisa de animais e coisas desse tipo... Ele também não
gosta que as pessoas os comam. Segunda, ele é o mais famoso defensor mundial da
legalização do assassinato de
recém-nascidos.
Ora, não estou falando sobre aborto. Singer e seu guia espiritual, Joseph Fletcher, poderiam chamar
aborto. Aliás, eles chamam “aborto pós-nascimento”.
P: Se os
pais deles praticassem o que eles agora ensinam...
R: No passado Peter Singer disse que
os pais deveriam ter 28 dias para decidir ficar com seus filhos recém-nascidos
ou matá-los. Agora ele expandiu esse prazo para um ano. Essa atitude é baseada
em sua ideia de que a criança recém-nascida não é uma pessoa. Conforme crê
Peter Singer, o recém-nascido não é um ser consciente... Outros especialistas
em bioética discutem o assunto de modo diferente. Alguns acreditam que... uma
pessoa é um ser que pode fazer decisões morais e dar prestações de contas
moralmente, por exemplo, num crime. Mas a conclusão a que isso leva é à atitude
de decidir quais seres humanos são melhores do que os outros.
P: Estou
completamente aturdido com o fato de que as pessoas poderiam chegar a
desperdiçar um minuto escutando esse imbecil do Singer.
R: Ele tem menos tato do que outros.
Mas ele não pertence a uma minoria isolada. Ele exemplifica o movimento. Ele é
o presidente da Associação Bioética Mundial. Talvez esse não seja o nome exato
da organização, mas ele está na segunda universidade mais prestigiosa nos EUA e
uma das mais conceituadas no mundo. Ele é um dos mais respeitados especialistas
em bioética em posição de autoridade¼
P:
Devíamos simplesmente não dar nenhuma atenção aos esquerdistas radicais como
Singer. Por que não fazemos isso? Que tipo de impacto esses especialistas em
bioética podem ter em mim e em você?
R: Eles são os indivíduos que estão
criando leis. Se você for a um tribunal para resolver uma questão de bioética,
adivinhe que é que dá testemunho no tribunal? Os especialistas em bioética! Quando o ex-presidente Clinton estava
decidindo o que fazer acerca da pesquisa de células-troncos [retiradas de bebês], adivinhe que é que fez essas
decisões com base nas recomendações dos especialistas de bioética? A pessoa que
preside a comissão de bioética do presidente é o presidente da Universidade de
Princeton, responsável pela presença de Peter Singer na universidade.
P: Então
eles são uma panelinha.
R: É uma panelinha de elite. Eles
estão nas universidades mais importantes: Harvard, Yale, Georgetown. A
Universidade de Georgetown publica a Revista de Ética do Instituto Kennedy, que
é uma das principais revistas para os especialistas em bioética no mundo
inteiro.
P: Então
esses caras ensinam os estudantes de hoje que estão se preparando para ser os
médicos de amanhã?
R: Sim. Todos os médicos que se
formam passam por um treinamento de bioética. E o motivo por que escrevi o
livro “Cultura da Morte” é que a maioria das pessoas não concorda com a
bioética. A [atual] ética médica e os valores de saúde pública não refletem...
nossa convicção de que toda vida humana é sagrada e tem os mesmos direitos.
Como disse Thomas Jefferson: “Afirmamos
que essas verdades são evidentes para todos, que todas as pessoas são criadas
iguais”. Os especialistas em bioética rejeitam essa ideia porque de acordo
com a bioética a pessoa tem de provar merecer o direito de ser considerada uma
“pessoa”. Se não acredita em mim, permita-me lhe ler algo de um especialista em
bioética chamado John Harris. O artigo dele saiu publicado na Revista de Ética
do Instituto Kennedy. É sobre isso basicamente que estamos falando. Então
gostaria de levar você para as consequências, para onde esse tipo de pensamento
conduz. O que quero dizer é que as pessoas entre nós que são mais vulneráveis,
as mais fracas — são literalmente empurradas para a morte. Veja aqui o que
Harris diz sobre o direito de ser uma pessoa: “Muitos, ainda que não todos, dos
problemas da ética de assistência de saúde pressupõem que temos uma opinião
sobre os tipos de seres que têm algo que poderíamos considerar como de valor
moral máximo”. Ora, você e eu diríamos que todos os seres humanos têm valor, certo?
... Veja o que mais ele diz: “Ou se isso parece apocalíptico demais, então com
certeza precisamos identificar os tipos de indivíduos que têm o valor moral
mais elevado”. Mas os especialistas em bioética estão dizendo isso, e as
pessoas parecem pensar que tudo o que eles dizem está certo só porque eles são
das universidades mais conhecidas... Dê uma olhada no modo como o jornal The
New York Times e outros membros dos principais meios de comunicação fazem
reportagem sobre Peter Singer. Eles fizeram pouco caso de suas declarações de
que precisamos ganhar o direito de matar bebês e as tacharam como fora de
contexto. Eles o exaltam como um homem com ideias novas e grandes.
P:
Parece que há um grupo de acadêmicos arrogantes e pretensiosos que está agora
ditando o modo como a medicina será praticada.
R: É porque esse país está sofrendo
de uma horrível doença chamada “especialitis”. Achamos que as únicas pessoas
que sabem tudo são os “especialistas”, e as pessoas de certo modo pararam de
acreditar que seus próprios valores podem ser importantes e podem desempenhar
uma parte nessas questões. Quando dizem que alguns de nós não são pessoas,
então o que podemos fazer com as pessoas que não são consideradas “pessoas”?
Será que poderemos tirar proveito delas como se fossem recursos naturais?
P: Isso
é o que esses palhaços diriam. Aliás, basicamente eles veem as não-pessoas como
campo para o cultivo de órgãos e partes do corpo que podem e devem ser colhidos
para serem usados sempre que as pessoas de maior valor moral precisem desses
órgãos.
R: E aí está o ponto mais
importante. Tom Beechum — um importante biótico que escreveu um dos principais
livros escolares de bioética “Os
Princípios da Ética Biomédica” — diz: “O fato de que muitos seres humanos
não são pessoas ou são menos do que pessoas plenas... os torna moralmente
iguais ou inferiores a alguns seres não humanos [animais]. Se dá para defender
essa conclusão, precisaremos repensar nossa opinião tradicional de que esses
seres humanos infelizes não podem ser tratados do mesmo modo que tratamos
semelhantes seres não humanos. Por exemplo, eles poderiam ser usados como
matéria humana para pesquisas e fontes de órgãos”.
P: Por favor
conte-nos o caso, registrado em seu livro, de Christopher e seu pai.
R: Christopher Campbell era um jovem
de 17 anos que sofreu um acidente de carro. Ele ficou inconsciente por três
semanas. De repente ele começou a ter uma febre alta e horrível, e seu pai John
diz ao médico: “Trate a febre do meu filho. Ele está com 40 graus de
temperatura, e está subindo para 41”. O médico respondeu ao pai: “De que vai
adiantar? Seu filho não está consciente. Sua vida já terminou”. E quando o pai
continuou a insistir, o médico chegou ao ponto de rir na cara dele.
P: Como
você ficou sabendo desse caso?
R: Esse
pai desesperado me ligou porque eu havia escrito um livro anterior, Forced Exit
(Morte Forçada), sobre a eutanásia. Ele me sondou e disse: “Ei, o que posso
fazer?” Então lhe dei algumas dicas, e adivinhe o que aconteceu? Ele conseguiu
tratamento para seu filho... ele saiu do coma, está aprendendo a andar e é hoje
um conselheiro para adolescentes em situação de risco.
P: E
pode-se definir esses adolescentes em risco como qualquer infeliz que teve de
ser tratado pelo homem que era o médico de Campbell.
R: Agora esse jovem está levando uma vida bem produtiva, e está trabalhando
muito para se recuperar fisicamente, pois ele teve ferimentos bem graves na
cabeça. Mas esse jovem estaria morto hoje porque o médico não se importava o
bastante com sua vida para reduzir uma febre.
P: Lamentavelmente, o caso dele não é incomum. Diga-nos da senhora de 90
anos cujo médico não queria lhe dar antibióticos.
R: Uma mulher me telefonou para dizer: “Minha mãe tem 92 anos. Ela está com uma
infecção terrível, e o médico não quer lhe dar antibióticos”. Então fiz a
pergunta óbvia: “Por que?” Ela respondeu: “O médico me disse: ‘De todo jeito
sua mãe vai morrer de infecção. Bem que poderia ser essa.”
P: Conte-nos o caso do bebê Ryan do Estado de Washington.
R: O bebê Ryan nasceu prematuramente com problema nos rins. Ele precisava de
diálise de rins. O pai era um imigrante vietnamita e, como não é de
surpreender, ele não era visto como uma pessoa de influência. Como sabemos, não
se faz essas coisas para um presidente. Inicialmente, se faz esse tipo de coisa
para gente que não pode revidar. Mas esse pai revidou. Os médicos lhe disseram:
“Chegou a hora de seu bebê morrer. Muito embora você não queira, estamos
removendo dele a diálise de rins”. O pai conseguiu um advogado e obteve um
mandado judicial.
P: Explique o que aconteceu com o pai.
R: Pelo fato de que o pai obteve o mandado, os médicos o entregaram às
autoridades públicas, afirmando que o pai, não os médicos, estava prejudicando
a criança impedindo-a de morrer.
P: E o que aconteceu?
R: Apareceu um médico diferente que tomou conta do caso. Ele colocou o bebê num
hospital diferente, e ele ficou melhor. A verdade é que após várias semanas o
bebê não mais precisou de diálise de rins. A criança acabou morrendo aos 4
anos, porém por razões que nada tinham a ver com os rins. Aliás, ele teve uma
infância bem feliz. Se tivessem deixado os médicos imporem seus valores e
moralidade no bebê, ele teria morrido com a idade de duas semanas.
P: No seu livro há alguns casos horríveis de pacientes que foram
forçados a morrer porque removeram a água deles.
R: Há mesmo. E é uma situação terrível — principalmente se o
paciente está consciente. A desidratação mata em 14 dias, porém é um problema
que dá para resolver facilmente. Antes era a família que decidia remover a água
e o alimento. Mas agora a história é diferente. Há um caso na Califórnia
envolvendo Robert Wendland. Robert consegue andar de cadeira de rodas pelos
corredores do hospital. Ele consegue escrever a letra “R”. Ele consegue dizer
sim ou não com a ajuda de botões. Ele sofreu um horrível acidente de carro e é
hoje um deficiente físico cognitivo. Estão agora decidindo diante da Suprema
Corte dos EUA se podem remover a água dele para ele morrer, o que levará 14
dias. A Corte de Apelos disse que os médicos têm o direito de remover a água dele...[10]
Copyright 2005 Júlio Severo. Permitida a reprodução deste artigo, desde que
sejam citados na íntegra a fonte, autoria e site do autor. Favor enviar uma
cópia ao autor. Júlio Severo é autor do livro O Movimento Homossexual,
publicado pela Editora Betânia. Para conhecer outros artigos do autor,
[1]J. C. Willke,
Assisted Suicide & Euthanasia (Hayes Publishing Co.:
Cincinnati-EUA, 1998), p. 1.
[2] Eileen Doyle, A
Pro-Life Primer on Euthanasia (American Life League: Stafford, EUA, 1996).
[3] Eileen Doyle, A
Pro-Life Primer on Euthanasia (American Life League: Stafford, EUA, 1996).
[4] Eileen Doyle, A
Pro-Life Primer on Euthanasia (American Life League: Stafford, EUA, 1996).
[5] Dr. Brian Clowes, The
Pro-Life Activist’s Encyclopedia. Pro-Life Library CD-Rom. Ó 2000 Human Life
International.
[6] Pro-Life Times,
novembro de 2000, pp. 1,2.
[7]J. C. Willke,
Assisted Suicide & Euthanasia (Hayes Publishing Co.: Cincinnati-EUA, 1998),
p. 90.
[8]Teresa R. Wagner,
To Care or To Kill (Family Reserch Council: Washington, D.C., 1999), p. 5.
[9]Teresa R. Wagner,
To Care or To Kill (Family Reserch Council: Washington, D.C., 1999), p. 10.
[10] Wesley Smith, em entrevista ao noticiário
eletrônico WorldNetDaily de 11 de fevereiro de 2001 (www.wnd.com). O texto foi traduzido e adaptado por mim e alguns trechos
Fonte: http://juliosevero.blogspot.com.br/2005/04/o-que-eutansia.html